Os desafios da depressão
Em junho de 2022, ao realizarem
uma revisão de estudos sobre depressão, pesquisadores da Inglaterra não
encontraram evidências de que os níveis baixos de serotonina ou da atividade
desse neurotransmissor sejam responsáveis pela condição mental.
A revisão liderada por
Joanna Moncrieff, professora de psiquiatria da Universidade College London,
averiguou 17 estudos anteriores sobre o tema envolvendo dezenas de milhares de
participantes. A conclusão é de que a depressão provavelmente não é causada por
um desequilíbrio químico, já que pacientes deprimidos nem sempre apresentam deficiência
de serotonina.
Os autores da revisão
analisaram pesquisas que compararam a serotonina e seus produtos de degradação
no sangue ou nos fluidos do cérebro. Os resultados demonstram que não havia
diferença entre pacientes depressivos e saudáveis. Nem mesmo existiam sinais de
maior atividade da serotonina em pessoas com depressão em estudos sobre
receptores e o transportador desse neurotransmissor — a proteína 5-HTT.
Estudos grandes com dezenas
de milhares de pacientes analisaram o gene do transportador de serotonina 5-HTT
e não detectaram diferença nesse gene entre pessoas com depressão e indivíduos
saudáveis.
O
estresse
Outras pesquisas também
mostraram que o desequilíbrio químico não é tudo: quanto mais eventos de
estresse uma pessoa suportava, maior era a probabilidade dela ficar deprimida.
Um dos estudos inclusive sugeriu uma relação entre os episódios estressantes, o
tipo de gene transportador de serotonina e a chance de se ter a doença. No
entanto, análises mais recentes e maiores refutaram a descoberta.
Apesar do debate ser
extenso, os pesquisadores acreditam que sua revisão é importante. Segundo
concluiu o estudo, entre 85% e 90% das pessoas acreditam que a depressão é
causada pela baixa serotonina ou um desequilíbrio químico.
Isso sugere que o
aumento de serotonina que alguns antidepressivos produzem no curto prazo pode
levar a mudanças compensatórias no cérebro, provocando o efeito oposto a longo
prazo. Os pesquisadores acreditam, contudo, serem necessárias mais pesquisas
sobre tratamentos, de preferência com foco em eventos estressantes e
traumáticos, como a psicoterapia, junto de atividade física e práticas como
mindfulness.
“Nossa opinião é que os
pacientes não devem ser informados de que a depressão é causada pela baixa
serotonina ou por um desequilíbrio químico, e eles não devem ser levados a
acreditar que os antidepressivos funcionam visando essas anormalidades não
comprovadas”, salienta Moncrieff.
Entretanto, estes
estudos não devem ser usados para salientar o discurso de que depressão e
outras formas de adoecimento mental não são doenças. Estes discursos só
aumentam o sofrimento dos portadores, que se sentem culpados pela própria
doença.
Apesar da patologia
ainda estar sendo estudada e compreendida, ela deve ser tratada. A terapia é
uma das formas de tratamento da pessoa em sofrimento, que pode ser combinada ou
não com o uso de medicamentos. Não deixe de conversar com o seu médico sobre o
seu diagnóstico.
Fonte: Acervo Dr.
Salomon Katz; Revista Galileu
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